terça-feira, 15 de março de 2016

Ensino da Oralidade na Escola

Oralidade: a fala que se ensina

Oralidade não se aprende por intuição: gêneros mais formais, como o seminário, devem ser trabalhados com as crianças desde as séries iniciais

Por Lorena Verli (novaescola@fvc.org.br), Rodrigo Ratier

Por alguns instantes, volte ao passado: algum professor ajudou você a saber como falar? Salto para o presente: na sua prática em sala, você se preocupa em abordar conteúdos da oralidade? É possível que a resposta às duas perguntas seja a mesma: um sonoro "não".
Uma apresentação de sucesso
Montagem sobre foto: Edson Reis
Montagem sobre foto: Edson Reis
ROTEIRO PRECISO 
Uma cola com tópicos pode ajudar a encaminhar a apresentação. Não vale ler os cartazes nem decorar o trabalho

DISCURSO SEGURO 
As falas devem ser claras, coerentes e concisas: é preciso passar todo o conhecimento no tempo combinado

APOIO CERTEIRO 
Recursos visuais devem trazer informações simples e diretas para facilitar a compreensão do tema geral da apresentação
A razão é compreensível. Existe a idéia corrente de que não é papel da escola ensinar o aluno a falar - afinal, isso é algo que a criança aprende muito antes, principalmente com a família. Meia verdade. Há nessa concepção um erro grave de reduzir a oralidade à fala cotidiana, informal, representada pelos bate-papos e pelas conversas do dia-a-dia. O fato é que, sob a denominação genérica de "linguagem oral", encontram-se diversos gêneros: entrevistas, debates, exposições, diálogos com autoridades e dramatizações. Em relação a todos eles, o professor tem um papel importante.

"Cabe à escola ensinar o aluno a utilizar a linguagem oral nas diversas situações comunicativas, especialmente nas mais formais", afirmou o psicólogo suíço Bernard Schneuwly em entrevista à NOVA ESCOLA em 2002. Considerado um dos maiores estudiosos sobre o Desenvolvimento da oralidade, ele defende que os gêneros da fala têm aplicação direta em vários campos da vida social - o do trabalho, o das relações interpessoais e o da política, por exemplo.

Esforço contínuo

Uma primeira medida para resgatar a importância do tema é investir na abordagem sistemática. A estratégia que deve permear todas as fases da escolarização é iniciar o trabalho pelas situações comunicativas praticadas naturalmente em sala de aula. Partindo dessa perspectiva, o Centro Educacional São Camilo, em Cachoeiro de Itapemirim, a 130 quilômetros de Vitória, decidiu trabalhar o seminário como uma atividade permanente desde o início do Ensino Fundamental (veja a foto à esquerda). E não apenas nas aulas de Língua Portuguesa: pesquisas e trabalhos de campo de História, Geografia e Ciências, antes restritos à entrega em papel, são apresentados para toda a turma na forma de exposição oral. "Com a experiência constante, os estudantes avançam em todas as etapas do trabalho: passam a fazer pesquisas mais profundas, descobrem o que pode ser utilizado na apresentação e mostram mais desenvoltura na hora de expor o assunto", diz a coordenadora pedagógica Edna Valory (leia no quadro acima os conteúdos desse tipo de atividade).

No seminário, como em qualquer outro gênero, o fundamental é conseguir que ele faça sentido aos alunos. Para isso, o professor deve debater com a turma o propósito da atividade: por que estamos fazendo essa pesquisa? Quais os critérios para selecionar o que aprendemos e merece ser apresentado? De que forma ele pode interessar ao público? "O seminário tem de ter uma finalidade maior do que ser apenas uma apresentação. Caso contrário, o trabalho corre o risco de se tornar desmotivante", explica Roxane Rojo, professora do Departamento de Lingüística Aplicada da Universidade de Campinas. Depois, é partir para o detalhamento dos procedimentos que sustentam a apresentação oral (leia se qüência didática com etapas da atividade ao lado).

A melhor forma de conseguir bons resultados é acompanhar o aluno em todos os processos. No Colégio Sete de Setembro, em Fortaleza, a orientação dos seminários vai desde a discussão sobre o tema até a avaliação da apresentação. "No momento em que o aluno vai pesquisar, por exemplo, não adianta ele reunir um monte de indicações bibliográficas ou simplesmente copiar trechos de sites da internet. É tarefa do professor auxiliar na seleção de informações e na articulação das diversas fontes", explica a coordenadora pedagógica Rachel Ângela Rodrigues.

Ainda que a exposição oral seja mais comum nas séries finais do Ensino Fundamental, ela pode ter lugar desde os primeiros anos. A recomendação dos Parâmetros Curriculares Nacionais é que as expectativas de aprendizagem acompanhem a evolução dos alunos. A partir do 3º ano, é possível exigir mais formalidade no uso da linguagem, preparação prévia e manutenção de um ponto de vista na apresentação. A avaliação deve contemplar esses aspectos - desde, claro, que o professor os tenha ensinado.

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